baluartv.com.br | A magia do “sangue dourado”: como os cientistas estão tentando cultivar o tipo sanguíneo mais raro do mundo

A magia do “sangue dourado”: como os cientistas estão tentando cultivar o tipo sanguíneo mais raro do mundo

Conhecido como Rh nulo ou “sangue dourado”, esse tipo sanguíneo é encontrado em menos de 50 pessoas no mundo.

Cientistas de diferentes países estão agora buscando formas de replicar esse sangue raro em laboratório, com o objetivo de criar uma reserva de células sanguíneas compatíveis com a maioria dos pacientes e ampliar dramaticamente o acesso a transfusões.

O que exatamente é o sangue dourado?

O sangue do tipo Rh nulo não possui nenhum dos antígenos do sistema Rh — ou seja, ausência total dos mais de 50 antígenos conhecidos. Por essa razão, quando alguém com Rh nulo doar sangue, ele teoricamente pode ser compatível com qualquer receptor dentro das variantes Rh.

Quem o possui e por que é tão raro?

Globalmente, estima-se que haja apenas entre 40 e 50 pessoas portadoras de Rh nulo, o que equivale aproximadamente a uma pessoa a cada seis milhões. O fenótipo está ligado a mutações genéticas que afetam a proteína RhAG, essencial para a expressão dos antígenos Rh.

Por que ele é tão valorizado na medicina?

Para quem recebe transfusões, além dos antígenos ABO, os antígenos Rh são um dos principais motivos de rejeição. Ter um sangue sem nenhum antígeno Rh significa menor risco de incompatibilidade na maioria dos casos. Assim, o Rh nulo é considerado um potencial “doador universal” dentro das variantes Rh — ainda que com ressalvas.

Como os pesquisadores estão tentando cultivar esse sangue?

Pesquisas lideradas por equipes como a da University of Bristol, no Reino Unido, utilizam técnicas como edição genética (por exemplo, CRISPR-Cas9) e cultivo de células-tronco para produzir hemácias Rh nulo em laboratório. Por exemplo, em 2018 pesquisadores deletaram genes responsáveis por cinco sistemas de antígenos para chegar a células sem expressão Rh.

Quais são os desafios para uso clínico?

Produzir hemácias funcionais em laboratório ainda enfrenta obstáculos importantes: diferenciação completa das células-tronco, maturação adequada das hemácias, custos elevados e a necessidade de ensaios clínicos de segurança. Além disso, portadores de Rh nulo têm risco aumentado de anemia e fragilidade de glóbulos vermelhos, o que reduz ainda mais o pool de doadores.

Quando isso poderá se tornar realidade para pacientes?

Embora os resultados sejam promissores, especialistas afirmam que ainda estamos nos estágios iniciais. A produção em larga escala para transfusões seguras levará anos devido à regulamentação, testes clínicos e viabilidade econômica. Doadores tradicionais continuam sendo a forma mais eficaz e acessível de suprir bancos de sangue hoje.

Onde a pesquisa está sendo realizada e quem está envolvido?

Projetos estão em andamento no Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, envolvendo universidades, institutos de medicina transfusional e empresas-spin-off. Além da Bristol, há estudos em Quebec que extraíram células-tronco de doadores para edição genética visando produzir O Rh nulo.

Por que o tema é relevante para o Brasil e o mundo?

Em situações de emergência ou com pacientes com tipos sanguíneos raros, encontrar doador compatível é um desafio global, inclusive no Brasil. A possibilidade de cultivar sangue universalmente compatível ainda que em pequeno volume pode alterar profundamente o sistema de hemoterapia e reduzir filas de espera ou riscos associados às transfusões.

Fonte (Referência): BBC Brasil – “A magia do ‘sangue dourado’: como os cientistas estão tentando cultivar o tipo sanguíneo mais raro do mundo”.

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